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Haverá provas em ética?


A impressão de que os juízos morais são "insusceptíveis de prova" é extraordinariamente persistente. Por que motivo acreditam as pessoas nisto? Podem mencionar-se três pontos. Primeiro, quando se exige provas as pessoas têm muitas vezes em mente um padrão inadequado. Estão a pensar em observações e experiências científicas; e se não há observações e experiências similares em ética, concluem que não há provas. Mas em ética o pensamento racional consiste em fornecer razões, analisar argumentos, estabelecer e justificar princípios, e outras coisas que tais. O facto de o raciocínio ético ser diferente do raciocínio científico não o torna deficiente. Segundo, quando pensamos em "provar a correção das nossas opiniões éticas", tendemos a pensar automaticamente nas questões mais difíceis. A questão do aborto, por exemplo, é muito complicada e difícil. Se pensarmos apenas em questões como esta, torna-se fácil acreditar que as "provas" em ética são impossíveis. Mas poderia dizer-se o mesmo das ciências. Há matérias complicadas sobre as quais os físicos não conseguem chegar a acordo; se nos concentrássemos apenas nelas poderíamos concluir que não há provas em física. Mas, é claro, há muitos assuntos mais simples sobre os quais todos os físicos competentes estão de acordo. De modo semelhante, em ética há muitos assuntos mais simples sobre os quais todas as pessoas razoáveis estão de acordo. Por fim, é fácil misturar duas coisas que são na realidade muito diferentes: 1. Provar a correção de uma ideia; 2. Persuadir alguém a aceitar as nossas provas. Podemos ter um argumento exemplar que alguém recusa aceitar. Mas isso não significa que tenha de estar alguma coisa errada com o argumento ou que a "prova" seja, de alguma forma, inatingível. Pode apenas significar que alguém está a ser teimoso. Quando isto acontece não deveria surpreender-nos. Em ética é de esperar que as pessoas por vezes recusem dar ouvidos à razão. Afinal de contas, a ética pode exigir a realização de coisas que não queremos fazer, sendo, pois, muito previsível que tentemos evitar ouvir as suas exigências. James Rachels Os Elementos da Filosofia Moral Editora Gradiva